Há quem diga que a memória nos conduz à servidão. E há quem diga que, ao contr?rio, nos liberta, uma vez que ? ineg?vel o seu poder de consolidar lembran?as ou dilu?-las no esquecimento. S?nia Barros, autora de numerosa obra para crian?as e jovens e dois belos livros de poemas, nos traz aqui uma hist?ria sublime, avessa ? literatura de ?guas rasas, ao evocar, de forma superlativa, uma realidade familiar de amor em profundidade. Precisamente neste Zaime, o seu talento, desafiado por uma dor pessoal, atinge as altas esferas ? plat? no qual tamb?m a sua poesia j? alcan?ou. A configura??o narrativa ? a do di?logo entre m?e e filha ? duas vozes que n?o apenas se intercalam nas sombras do presente, mas s?o igualmente enunciadas nas cintil?ncias do passado. Essa modula??o, que a princ?pio mimetiza as marca??es teatrais, em que os gestos consubstanciam as falas, se imp?e como um itiner?rio que parte da d?vida do agora e avan?a em dire??o ? certeza do antes. Comove ler os instantes-hoje e, em seguida, os instantes-ontem, posto que, entre uns e outros, rasgados por anos, vamos descobrindo quem ? a m?e, que adotou essa filha, e quem ? a filha que, dotada tanto dessa m?e, n?o de corpo, mas de alma, chega com ela ao estado m?ximo de comunh?o. O dueto de temas di?rios (e s? em apar?ncia prosaicos) revela um v?nculo grandioso que raramente se d? entre seres regados pelo mesmo sangue. Zaime, de S?nia Barros: uma hist?ria de (dupla) generosidade em carne viva.Jo?o Anzanello Carrascoza